segunda-feira, 28 de março de 2011

Levou, mas não mereceu (1a. parte)

Algumas injustiças do Oscar

A discussão é antiga e, pelo visto, eterna. Neste ano não foi diferente, será que O Discurso do Rei mereceu ganhar o Oscar de melhor filme? Você já sabe a minha opinião (se não sabe, basta ler o último post), mas há quem diga que daqui a dez anos nós nos lembraremos de A Origem e já teremos esquecido O Discurso. É verdade, mas não quer dizer que um foi melhor que outro. Uma geração inteira se lembra mais dos Goonies do que do filme que ganhou o Oscar naquele ano. Você lembra quem foi? Pois, em 1986, a Academia premiou Entre Dois Amores. E ainda concorreram os ótimos A Honra do Poderoso Prizzi, A Cor Púrpura e O Beijo da Mulher Aranha. Os Goonies não é um filme melhor do que eles, mas talvez seja mais memorável. E qual filme do Spielberg você tem mais lembrança: Parque dos Dinossauros ou A Lista de Schindler. Os dois são do mesmo ano, A Lista é muito melhor, mas tem gente (e muita gente) que gosta mais do Parque. E ainda há aqueles que dizem que Jurassic Park é mais importante para a história do cinema. Não vou entrar nessa discussão específica, mas apresento a primeira parte da minha lista dos filmes que ganharam o Oscar de melhor filme, mas que, na minha opinião, não mereciam. Tem gente que vai discordar de mim, mas é aí que está a graça da coisa...

1) Comecemos logo pela injustiça das injustiças, o exemplo máximo (e sempre citado) de que premiação não tem a ver com qualidade. O Oscar de 1942 preteriu Cidadão Kane em favor de Como Era Verde o Meu Vale. Apesar do vencedor ser um bom filme (não é muito mais do que isso, mas tem muita qualidade), Kane é considerado o melhor filme de todos os tempos. Só isso. E é mesmo. Mas a academia preferiu o drama rural norte-americano com interpretações (ótimas) lacrimogênicas e uma (ótima, também) direção dentro dos padrões. Todas as novidades e qualidades de Cidadão Kane foram postas de lado, para serem reverenciadas anos depois. Talvez, ele tenha chegado cedo demais. Os eleitores não estavam preparados para votar em algo tão revolucionário, tão significativo, tão melhor do que qualquer coisa que já tenha sido feita.

2) Em 1981, a Academia premiou Gente Como a Gente, muito bom filme. Mas um David Linch chamou muito a atenção naquele ano: O Homem Elefante. Sensível, diferente, perturbador. Mas nem esse drama do homem com um rosto deformado foi (na minha opinião) o melhor filme do ano. Este posto caberia a Touro Indomável. Um Socorcese clássico, apurado nos mínimos detalhes, com um Robert De Niro no auge, quando ainda queria ser ator de cinema. Uma grande injustiça, com certeza.

3) Um Americano em Paris é um dos meus filmes favoritos. Tem Gene Kelly, Leslie Caron e a direção é do Vincent Minnelli. Um musical delicioso que acabou ganhando o Oscar em 1952. Mas não era o melhor filme. O melhor foi Uma Rua Chamada Pecado (nunca entendi por que o título em português não foi Um Bonde Chamado Desejo?). Baseado na peça de Tennessee Williams, com direção de Elia Kazan, com Vivien Leigh vivendo Blanche Dubois e Marlon Brando arrebatador como Stanley Kowalski. Muito mais filme que o que levou o prêmio. Mais denso, com mais detalhes, com mais qualidades. Mas a Academia preferiu a alegria do musical.

4) Outro musical que gosto é Chicago. Mas este, aqui entre nós, não é nada demais. É só uma boa diversão. Mas levou para casa o Oscar de melhor filme em 2003. Quem poderia ter ganho naquele ano? Que tal O Pianista, sensível fime de Roman Polanski com uma atuação brilhante de Adrian Brody? Ou As Horas, dirigido com delicadeza por Stephen Daldry e com Nicole Kidman liderando um elenco fantástico. Ou um Spielberg subestimado, mas que é maravilhoso e tem um elenco com atuações brilhantes como Prenda-me Se For Capaz? A animação A Viagem de Chihiro poderia brigar pela estatueta, pois tem muita qualidade, principalmente no roteiro (levou o prêmio de melhor animação). Mas o melhor do ano foi o que ganhou o Oscar de melhor filme de língua estrangeira: Fale Com Ela, do Almodóvar. Provocador e elegante, o filme-equilíbrio da carreira do diretor espanhol. Mas não poderia ter sido Chicago...

5) No ano passado, tivemos a "consagração" de Guerra ao Terror. O filme é qualquer nota. Filminho mesmo. Bem feitinho, mas só. Propaganda militar barata. O seu maior concorrente foi Avatar. Um James Cameron típico: o nada absoluto, envolto em imagens de tirar o fôlego. Também fraco. Das lista dos indicados, quase todos eram melhores do que eles. Seis se destacavam por suas qualidades (muito maiores do que o vencedor e seu principal desafiador). O primeiro deles, e o favorito de muitos, é um filme que considero divertido, mas superestimado: Bastardos Inglórios. Um Homem Sério, dos irmãos Coen, também poderia ter ganho a estatueta. Distrito 9 é muito mais interessante e melhor que os dois favoritos. Amor Sem Escalas tem um roteiro primoroso e uma direção segura, além da atuação dos protagonistas, e poderia ter levado o prêmio. Educação é um filme de muitos detalhes e todos bem amarrados. Um primor. Até Up - Altas Aventuras, merecia mais ganhar o Oscar do que o Guerra ao Terror. Os melhores do ano, porém, nem foram indicados. O segundo melhor foi 500 Dias Com Ela. Um ótimo filme, com roteiro inteligente, diálogos primorosos, atuações cativantes e uma direção segura. Um filme que não cabe em uma definição de gênero. Não é comédia, não é drama, não é romance. Mas poderia ser tudo isso. Uma jóia cinematográfica. No entanto, houve um grande tesouro nesse ano e, de novo, foi o vencedor de filme estrangeiro. O melhor filme do ano passado foi O Segredo dos Seus Olhos. Uma magnífica produção argentina. Um filme obrigatório para todos. Dirigido com sensibilidade por Juan José Campanella, tem um dos melhores roteiros dos últimos anos e um conjunto de atores fantásticos, com destaque para o sempre ótimo Ricardo Darín. Filmaço. Maravilhoso. Mas a Academia resolveu dar uma força para o alistamento militar norte-americano...

Para não cansar, vou parar por aqui. Daqui a algums dias, colocarei a segunda parte. Já sei que vou provocar alguns. Na próxima lista, estarão incluídos Dança Com Lobos, Titanic e Rocky...

quarta-feira, 23 de fevereiro de 2011

Oscar 2011


Meus palpites e minhas preferências


Pronto, reativei o blog só para palpitar sobre o Oscar. Na verdade, vou dar duas opiniões: quem eu acho que vai ganhar e quem eu acho que deveria ganhar. Nem sempre uma bate com a outra. E vamos em frente com a previsiologia.


Filme: deve ganhar O Discurso do Rei. Dos 10 concorrentes, 2 estão ali só para fazer figuração: 127 Horas e O Vencedor. 2 têm méritos, mas não têm competência para brigar: Minhas Mães e Meu Pai, e Inverno da Alma. 4 são filmes que verei mais vezes. Interessantes, emocionantes ou provocativos, são filmes para segundas (e terceiras e quartas...) chances: Cisne Negro, A Origem, Toy Story 3 e Bravura Indômita. Mas ainda não são os melhores. Estes são, justamente, os mais "normais". O Discurso do Rei tem a força do trio de atores. Colin Firth, Geoffrey Rush e Helena Bonham-Carter hipnotizam o espectador e fazem valer o ingresso. Mas o melhor filme é A Rede Social. Pelo conjunto, pelo equilíbrio, pelo jogo de maniqueísmo, pelo contar da história.


Ator: deve ganhar o Colin Firth. Merece, mas eu daria o prêmio para o Jeff Bridges novamente.


Atriz: deve ganhar (e merece muito) a Natalie Portman.


Ator Coadjuvante: ninguém tira o prêmio do Christian Bale. Formidável.


Atriz Coadjuvante: deve ganhar a Melissa Leo, mas a melhor atriz coadjuvante nem foi indicada, Mila Kunis (Cisne Negro).


Diretor: deve ganhar o Tom Hooper, pela simpatia que O Discurso do Rei vem colhendo no mercado. Mas eu prefiro o trabalho do David Fincher.


Roteiro Original: deve ganhar A Origem, com muito mérito.


Roteiro Adaptado: deve ganhar A Rede Social. Os outros concorrentes também são muito bons, mas a adaptação de A Rede Social é melhor.


Animação: Toy Story 3 ganha fácil. Filmaço.


Filme Estrangeiro: deve ganhar Em Um Mundo Melhor (Dinamarca). Da lista, eu só vi Biutiful, que não é lá essas coisas.


Fotografia: deve ganhar A Origem, que tem a melhor fotografia não só desse ano, mas de muitos anos.


Edição: deve ganhar A Rede Social, mas a briga é boa. A edição que mais gostei foi de Incontrolável, que nem foi indicado.


Direção de Arte: deve ganhar A Origem, mas, também nessa categoria, a disputa será acirrada. Eu gostei mais da direção de arte do filme que causa menos impacto, O Discurso do Rei.


Figurino: deve ganhar Alice no País das Maravilhas. O filme é meia-boca e exagerado, mas o figurino é primorosamente equilibrado (dentro do que é possível num País das Maravilhas e num filme do Tim Burton).


Maquiagem: deve ganhar O Lobisomem, mas serve qualquer um.


Trilha Sonora Original: deve ganhar A Rede Social, que tem uma trilha ótima. Mas eu gostei mais da trilha de A Origem.


Canção Original: deve ganhar Coming Home, de Country Song. Todas as canções são bem mais ou menos, mas eu ficaria com We Belong Together, de Toy Story 3.


Mixagem de Som: deve ganhar A Origem.


Edição de Som: deve ganhar A Origem.


Efeitos Visuais: deve ganhar A Origem, pela fantástica sensação de sonho.


Documentário de Longa Metragem: deve ganhar Exit Through The Gift Shop, mas vou torcer muito por Lixo Extraordinário.


Documentário de Curta Metragem: deve ganhar Poster Girl, mas os 3 documentários mais badalados nos EUA não foram sequer indicados.


Curta: deve ganhar God of Love, mas aqui tudo é possível. É a categoria com menos diferença de votos entre os indicados.


Curta de Animação: deve ganhar Dia & Noite, que é fantástico. Mas essa também é uma categoria com pouca diferença de votos entre os indicados e tudo pode acontecer.


É isso, vamos ver quantos palpites eu vou acertar. Nos últimos anos, muitos favoritos perderam por mudança de opinião da Academia nas últimas semanas. Se lembram do favoritismo de Avatar? Perdeu. Brokeback Mountain? Perdeu, também. Parafraseando os jogadores de futebol, o Oscar virou uma caixinha de surpresas...

sábado, 29 de maio de 2010

Comentário Amigo - Sex and the City 2, por Ana Paula Bazolli

Menos sexo, menos cidade, mais diversão.

Não poderia ter sido melhor a escolha da data de estreia no Brasil do segundo filme sobre as quatro amigas novaiorquinas cheias de estilo, semana de Fashion Rio. O longa comemora o meio século das moçoilas com chave de ouro. Samantha, Carrie, Charlote e Miranda estão envelhecendo, mas com o mesmo glamour e bom astral de antes. Saem um pouco das histórias sexo/ relacionamento passageiro e assumem papéis familiares em busca da felicidade. Filhos, rotinas, traição e menopausa são alguns assuntos que elas discutem não mais em um restaurante chique em Manhattan, mas sim em um hotel chique nos Emirados Árabes. Elas dispensam as burcas e mesmo em Abu Dhabi abusam de seus decotes, fendas e um figurino para lá de exagerado até para andar de camelo, sim, mas essas são as meninas de Sex and the City. Que graça teria sairmos de casa para ir ao cinema ver mulheres normais que usassem havaianas e não os lindos sapatos Manolo Blahnik de 500 dólares?

Não são apenas patricinhas e sim, mulheres bem sucedidas, independentes, que fazem o que bem entendem com seu corpo e com o seu dinheiro. Uma ameaça para homens que adoram a versão submissa de nós, não? Durante todos esses anos, essas mulheres buscaram uma única coisa, a felicidade e parece que foi no deserto, longe dos agitos, que encontraram as respostas que não tinham para a feliz IDADE. Não precisa ser casada paras ser feliz, acredita Samantha que prefere uma boa noite de sexo até na terra proibída. E também não precisa se ter filhos para ser completa, acredita Carrie. Essas mulheres fizeram um sucesso, pois não tiveram medo de serem elas mesmas e levar a vida como achavam que deveriam, sem rótulos e fiéis a amizade acima de qualquer coisa.

Não tem jeito, todos nós mortais gostaríamos de ter um dia dessas meninas ou ser amigas delas. A atriz Deborah Secco, bem sucedida, linda, que casou com um milionário em um castelo, dispara na pré-estreia “Eu queria ser Carrie”, imagina nós, Deborah? Mas ela quer dizer não só na maneira de se vestir, e sim nas atitudes e no jeito independente da personagem, confessou ela ao dizer: “Queria ser menos passiva e dar um grito de vez em quando”, o que falta de coragem em Deborah sobra em Carrie.

Mesmo aproveitando o embalo da Semana Fashion, não podemos ousar demais e nos dar ao luxo de andar com um chapéu enorme na cabeça para fazer moda, seríamos ridicularizadas, nem usar um Rolex nas rua, mesmo que da Zona Sul, a não ser que você não ligue em ter seu relógio nos braços de outro alguém. Sem contar com as situações climáticas, né? Os lindos casacos de Samantha não podem ser usados no país tropical.

A crítica caiu de pau e soltou: "o filme é vazio e preconceituoso com árabes", mas, esqueceram de dizer que é super aberto as relações homossexuais e começa com um casamento gay. Ora bolas, fãs de Woody Allen nunca iram gostar deste filme, onde cabeça foi usada para usar chapéu, rs, mas a proposta tamém não era essa. O filme é ótimo, divertido, exagerado, como não poderia deixar de ser, mas é de "mulherzinha". Trata de questões emocionais de nós. Não vá ao cinema com seu marido e espere que ele goste e entenda. A cabeça deles é muito pequena para caber um closet tão grande. Entre na sala, se despeça dele do lado de fora e o deixe assistir na sala ao lado, "A fúria de titãs", rs. É tão bom poder ter apenas um dia de Carrie ou de Deborah sem ninguém encher o saco, mesmo que seja uma sensação por duas horinhas de paz no escuro do cinema...

Raivinha do Tião


Fúria de Titãs

Ao entrar no multiplex, o funcionário foi logo brincando: "o Fúria do Tião é na sala 1". A brincadeira dá o exato tamanho do filme. Encarado como passatempo, passa. Esperar mais do que isso não dá. O filme é bom? Não. Mas vai cair bem numa sessão da tarde, como o original de 1981.

Refilmagens costumam trazer a responsabilidade de respeitar ou melhorar o original. Nesse caso, não havia isso. As diferenças de época, orçamento, tecnologia e público tiravam esse peso das costas do novo filme. Mas esse recente Fúria de Titãs repete as mesmas premissas ingênuas do primeiro filme, mas se leva a sério demais. Aí, deixa de empolgar. Não bastasse isso, ainda tem duas ajudas contra: Louis Leterrier e Sam Worthington.

Louis Leterrier é um exagerado. Gosta de mostrar que sabe usar os movimentos de câmera para filmar ação. Isso deixou Carga Explosiva 2 divertido e, graças a um roteiro que segurava a ação (lembrando a série de TV), O Incrível Hulk interessante. Mas em Fúria de Titãs ele não tem freios. E tome cenas exageradas, cansativas e sem emoção. Todas bem feitas, mas sem graça.

Sam Worthington está cada vez com menos carisma. É quase impossível torcer pelo seu personagem. Perseu e a zaga reserva do time lá da rua não valem de nada. Aquela carinha de raiva que ele faz parece que ele comeu um bobó arretado e não vai dar tempo de chegar no banheiro. Mas o cara tem um agente bom e estrelou 3 dos últimos blockbusters (Exterminador do Futuro: a Salvação, Avatar e esse Fúria). Vai entender...

O resto do elenco também não rende, porque não tem roteiro e diretor para fazê-los render. É uma pena ver tanta gente boa fazendo feio num filme com tanta visibilidade. O Liam Neeson, então, nem se fala. Lembra muito aquela atuação patética de Darkman: A Vingança Sem Rosto.

Os efeitos são ótimos, muitas das vezes usados a toa, ou melhor, usados a moda do Leterrier. Espera-se o tempo todo pelo Kraken e quande ele aparece decepciona. Não pelo efeito especial que o criou, mas pela cena em si. Matar o Kraken é mais fácil que roubar pirulito de criança. E fica a dica: fuja da projeção 3D. Acredite, o 3D estraga os efeitos, pois o filme foi transformado em 3D em cima da hora só por questões comerciais. Resultado: ficou uma bosta.

E aí, o que tinha tudo para ser uma grande diversão, é só divertidinho. Como disse o funcionário do multiplex, esse Titã é Tião...

Timburtices demais...


Alice no País das Maravilhas

Como se esperou por esse filme! E ele chegou. E é lindo. Visualmente falando, não há metáfora aqui. Mas, infelizmente, é só. Tim Burton cedeu aos seus desejos e fez um filme só para ele.

O texto de Lewis Carroll não ajuda tanto assim. Aliás, os textos, pois esse Alice mistura Alice no País das Maravilhas e Através do Espelho. Os livros são referências pelos detalhes, pelos intertextos, mas não são histórias tão fluentes assim. Os personagens são ótimos individualmente, mas não interagem de forma a tornar as histórias empolgantes. O filme tem o mesmo problema: não empolga. Mas é lindo. Ouso dizer que é mais lindo do que Avatar. E melhor dirigido, é claro.

Os atores estão todos bem. Uns mais, outros menos, mas estão bem. O destaque é o embate entre as duas rainhas. Helena Bonham Carter e Anne Hathaway constroem personagens bem antagônicos, como sugere o texto, mas tão fortes quanto. As duas atrizes seguem caminhos diferentes para explorar as riquezas das suas caracterizações. E o Tim Burton acerta nas permissões: a Rainha Vermelha é exuberantemente caricata, a Rainha Branca é sutil. Mas Burton erra ao forçar Johnny Depp a ser o Johnny Depp by Tim Burton. Se lembram do Willy Wonka da Fantástica Fábrica de Chocolate? Ele está de volta como o Chapeleiro. Com direito a dancinha ridícula no final.

Aproveitando que eu citei a Fantástica Fábrica de Chocolate, cá está o problema do filme: excesso de Tim Burton. Tim Burton na medida gera Peixe Grande (fantástico, maravilhoso!). Excesso gera esse Alice no País das Maravilhas. Muito Tim Burton. Muitas esquisitices. Salvam-se a direção de arte e a opção por filmar em 2D e transformar para 3D. Muito bem planejado e executado, o efeito dá a sensação daqueles livros infantis pop-ups. Uma delícia visual. Mas só. O resto, é Timburtice demais para um filme só.

O jovem cinema americano


Tudo Pode Dar Certo

Fico pensando no que vai acontecer com o jovem cinema americano quando o Woddy Allen morrer. Sim, porque, hoje, ele é o cineasta que faz filmes com mais juventude nas terras do Tio Sam. A cada dia ele parece mais novo. Qualquer hora vai fazer uma comédia adolescente passada numa escola. E com música. Só que inteligente.

Tudo Pode Dar Certo já havia sido comentado magistralmente aqui pela Daniela Rangel. Mas já que vi o filme, também vou dar o meu pitaco. Filmaço. Não está no mesmo nível de Match Point e Vicky Cristina Barcelona, mas nem tem a pretensão de ser. E é ótimo assim mesmo. O estilo de roteiro lembra Poderosa Afrodite e Desconstruindo Harry, com um toquezinho de Seinfeld, até pela presença de Larry David. Nada que mude o estilo Allen de fazer comédia, mas há uma pontuação diferente.

David é Boris Yellnikoff, físico indicado ao Nobel, inteligentíssimo, sexagenário, rabugento e adepto da teoria de que qualquer coisa pode dar certo, o acaso decide. A vida vai sob controle até que ele conhece Melody, vivida com humor, beleza e sensibilidade por Evan Rachel Wood. Ela é o contrário dele: pouca cultura, jovem, linda e cheia de vida. E a partir daí, Woody Allen costura situações que fazem a história saltar do lugar comum para uma discussão crítica e divertida sobre relacionamentos. Todos eles, de todos os tipos, sem preconceitos.

Allen dirige atores como poucos no cinema mundial. Em Tudo Pode Dar Certo até os figurantes estão magistrais. Eles dão credibilidade à farsa com tom de verdade e fazem a história funcionar trocando os personagens principais a cada momento. Sim, não é uma história que está sendo contada, mas várias delas. E é o conjunto delas que dá coerência à discussão sobre relacionamentos. E a discussão tem um frescor, uma jovialidade, uma visão tão contemporânea que estabelece Woody Allen como o melhor diretor da nova geração. Por que ninguém tem um discurso mais jovem do que ele. Vida longa (e próspera) ao Sr. Allen. Pelo bem dos espectadores do jovem cinema americano.

sábado, 1 de maio de 2010

Tony Stark tira onda!


Homem de Ferro 2

Depois de muito tempo sem atualização (a vida anda agitada, meus amigos), o Rolla no Escurinho do Cinema volta em grande estilo: Homem de Ferro 2!

Se você gostou do primeiro filme, vai gostar desse. O clima é o mesmo. Até os defeitos são os mesmos. Cinemão pipoca de boa qualidade, diversão garantida. Mas, aqui entre nós, o tal do Homem de Ferro não é nada interessante. Bom mesmo é o Tony Stark. E melhor ainda é Robert Downey Jr. O filme é deles. Um filme de ator e personagem. O anti-herói que vira herói, que zomba das instituições, que é inteligente e fútil ao mesmo tempo, que é arrogante, tudo isso faz de Tony Stark a grande atração do filme. Apesar de alguns dramas mal explorados (a saúde do personagem, por exemplo), o filme acerta no trabalho com o alter-ego do herói. O Homem de Ferro, em si, é chato, é um tanque de guerra que se pode vestir. O homem por dentro da armadura, no entanto, é muito interessante. E é nesse composto de drama e humor de Stark, que Jon Favreau vai costurando cenas de ação para dar ritmo à história.

Nota-se claramente que essa continuação teve mais verba para efeitos especiais que o primeiro filme. As cenas de ação são mais grandiosas. Há muito mais explosões e carros sendo destruídos. Você piscou, um carro explodiu. Como você já se acostumou com as armaduras (por causa do primeiro filme), os trajes já não causam tanto impacto. Nem mesmo a Máquina de Combate impressiona. Mas isso não é um problema, pelo contrário, é uma qualidade. As cenas e as relações interpessoais são mais interessantes do que os supertrajes. E as pessoas são mais importantes que a tecnologia. E, aí, a seleção do elenco ajuda muito.

Mickey Rourke tem cara, jeito e atuação de vilão. Você sabe que ele vai fazer algo bem mau. Não precisa de muito esforço para entrar no personagem. Mas ele se esforça e dá sensibilidade ao inimigo do herói. Sam Rockwell já provou sua qualidade de ator. A opção pela caricatura na interpretação do concorrente de Stark é bem acertada num filme que também tem as crianças como público. Gwyneth Paltrow retorna como Pepper Potts e, mais do que no primeiro Homem de Ferro, confirma que é boa atriz. Scarlett Johansson é Scarlett Johansson. Está lá para ser a gostosa de plantão. E é. E é só isso (tem talento para ser mais). Deve fazer mais coisa no filme dos Vingadores. Samuel L. Jackson é Samuel L. Jackson. Em algum momento você espera que o Nick Fury declare "Eu odeio essas cobras!". Mas não compromete. Don Cheadle é o novo James Rhodes. É um ótimo ator e o embate com seu amigo Tony fica muito interessante. Mas é o tal de Tony que é o dono do espetáculo. Aliás dono de tudo. E o dono de Tony é Robert Downey Jr. Bem-vinda ressurreição de Downey Jr. Ótimo ator, ótimo tempo de comédia, ótima personificação de Stark. Tudo bem que as vidas dos dois têm semelhanças, mas ele faz o personagem com o limite certo do real e da caricatura (afinal, é um filme de super-herói). E os diálogos ajudam nisso. É ótimo ver o dono de uma ex-indústria de armamentos, que usa uma armadura que pode explodir tudo, zombar do governo americano nas questões bélicas.

Homem de Ferro 2 é isso aí: diversão. Não quer ser mais do que isso e é tudo isso. E o tal do Tony Stark tira a maior onda...