segunda-feira, 28 de março de 2011

Levou, mas não mereceu (1a. parte)

Algumas injustiças do Oscar

A discussão é antiga e, pelo visto, eterna. Neste ano não foi diferente, será que O Discurso do Rei mereceu ganhar o Oscar de melhor filme? Você já sabe a minha opinião (se não sabe, basta ler o último post), mas há quem diga que daqui a dez anos nós nos lembraremos de A Origem e já teremos esquecido O Discurso. É verdade, mas não quer dizer que um foi melhor que outro. Uma geração inteira se lembra mais dos Goonies do que do filme que ganhou o Oscar naquele ano. Você lembra quem foi? Pois, em 1986, a Academia premiou Entre Dois Amores. E ainda concorreram os ótimos A Honra do Poderoso Prizzi, A Cor Púrpura e O Beijo da Mulher Aranha. Os Goonies não é um filme melhor do que eles, mas talvez seja mais memorável. E qual filme do Spielberg você tem mais lembrança: Parque dos Dinossauros ou A Lista de Schindler. Os dois são do mesmo ano, A Lista é muito melhor, mas tem gente (e muita gente) que gosta mais do Parque. E ainda há aqueles que dizem que Jurassic Park é mais importante para a história do cinema. Não vou entrar nessa discussão específica, mas apresento a primeira parte da minha lista dos filmes que ganharam o Oscar de melhor filme, mas que, na minha opinião, não mereciam. Tem gente que vai discordar de mim, mas é aí que está a graça da coisa...

1) Comecemos logo pela injustiça das injustiças, o exemplo máximo (e sempre citado) de que premiação não tem a ver com qualidade. O Oscar de 1942 preteriu Cidadão Kane em favor de Como Era Verde o Meu Vale. Apesar do vencedor ser um bom filme (não é muito mais do que isso, mas tem muita qualidade), Kane é considerado o melhor filme de todos os tempos. Só isso. E é mesmo. Mas a academia preferiu o drama rural norte-americano com interpretações (ótimas) lacrimogênicas e uma (ótima, também) direção dentro dos padrões. Todas as novidades e qualidades de Cidadão Kane foram postas de lado, para serem reverenciadas anos depois. Talvez, ele tenha chegado cedo demais. Os eleitores não estavam preparados para votar em algo tão revolucionário, tão significativo, tão melhor do que qualquer coisa que já tenha sido feita.

2) Em 1981, a Academia premiou Gente Como a Gente, muito bom filme. Mas um David Linch chamou muito a atenção naquele ano: O Homem Elefante. Sensível, diferente, perturbador. Mas nem esse drama do homem com um rosto deformado foi (na minha opinião) o melhor filme do ano. Este posto caberia a Touro Indomável. Um Socorcese clássico, apurado nos mínimos detalhes, com um Robert De Niro no auge, quando ainda queria ser ator de cinema. Uma grande injustiça, com certeza.

3) Um Americano em Paris é um dos meus filmes favoritos. Tem Gene Kelly, Leslie Caron e a direção é do Vincent Minnelli. Um musical delicioso que acabou ganhando o Oscar em 1952. Mas não era o melhor filme. O melhor foi Uma Rua Chamada Pecado (nunca entendi por que o título em português não foi Um Bonde Chamado Desejo?). Baseado na peça de Tennessee Williams, com direção de Elia Kazan, com Vivien Leigh vivendo Blanche Dubois e Marlon Brando arrebatador como Stanley Kowalski. Muito mais filme que o que levou o prêmio. Mais denso, com mais detalhes, com mais qualidades. Mas a Academia preferiu a alegria do musical.

4) Outro musical que gosto é Chicago. Mas este, aqui entre nós, não é nada demais. É só uma boa diversão. Mas levou para casa o Oscar de melhor filme em 2003. Quem poderia ter ganho naquele ano? Que tal O Pianista, sensível fime de Roman Polanski com uma atuação brilhante de Adrian Brody? Ou As Horas, dirigido com delicadeza por Stephen Daldry e com Nicole Kidman liderando um elenco fantástico. Ou um Spielberg subestimado, mas que é maravilhoso e tem um elenco com atuações brilhantes como Prenda-me Se For Capaz? A animação A Viagem de Chihiro poderia brigar pela estatueta, pois tem muita qualidade, principalmente no roteiro (levou o prêmio de melhor animação). Mas o melhor do ano foi o que ganhou o Oscar de melhor filme de língua estrangeira: Fale Com Ela, do Almodóvar. Provocador e elegante, o filme-equilíbrio da carreira do diretor espanhol. Mas não poderia ter sido Chicago...

5) No ano passado, tivemos a "consagração" de Guerra ao Terror. O filme é qualquer nota. Filminho mesmo. Bem feitinho, mas só. Propaganda militar barata. O seu maior concorrente foi Avatar. Um James Cameron típico: o nada absoluto, envolto em imagens de tirar o fôlego. Também fraco. Das lista dos indicados, quase todos eram melhores do que eles. Seis se destacavam por suas qualidades (muito maiores do que o vencedor e seu principal desafiador). O primeiro deles, e o favorito de muitos, é um filme que considero divertido, mas superestimado: Bastardos Inglórios. Um Homem Sério, dos irmãos Coen, também poderia ter ganho a estatueta. Distrito 9 é muito mais interessante e melhor que os dois favoritos. Amor Sem Escalas tem um roteiro primoroso e uma direção segura, além da atuação dos protagonistas, e poderia ter levado o prêmio. Educação é um filme de muitos detalhes e todos bem amarrados. Um primor. Até Up - Altas Aventuras, merecia mais ganhar o Oscar do que o Guerra ao Terror. Os melhores do ano, porém, nem foram indicados. O segundo melhor foi 500 Dias Com Ela. Um ótimo filme, com roteiro inteligente, diálogos primorosos, atuações cativantes e uma direção segura. Um filme que não cabe em uma definição de gênero. Não é comédia, não é drama, não é romance. Mas poderia ser tudo isso. Uma jóia cinematográfica. No entanto, houve um grande tesouro nesse ano e, de novo, foi o vencedor de filme estrangeiro. O melhor filme do ano passado foi O Segredo dos Seus Olhos. Uma magnífica produção argentina. Um filme obrigatório para todos. Dirigido com sensibilidade por Juan José Campanella, tem um dos melhores roteiros dos últimos anos e um conjunto de atores fantásticos, com destaque para o sempre ótimo Ricardo Darín. Filmaço. Maravilhoso. Mas a Academia resolveu dar uma força para o alistamento militar norte-americano...

Para não cansar, vou parar por aqui. Daqui a algums dias, colocarei a segunda parte. Já sei que vou provocar alguns. Na próxima lista, estarão incluídos Dança Com Lobos, Titanic e Rocky...

quarta-feira, 23 de fevereiro de 2011

Oscar 2011


Meus palpites e minhas preferências


Pronto, reativei o blog só para palpitar sobre o Oscar. Na verdade, vou dar duas opiniões: quem eu acho que vai ganhar e quem eu acho que deveria ganhar. Nem sempre uma bate com a outra. E vamos em frente com a previsiologia.


Filme: deve ganhar O Discurso do Rei. Dos 10 concorrentes, 2 estão ali só para fazer figuração: 127 Horas e O Vencedor. 2 têm méritos, mas não têm competência para brigar: Minhas Mães e Meu Pai, e Inverno da Alma. 4 são filmes que verei mais vezes. Interessantes, emocionantes ou provocativos, são filmes para segundas (e terceiras e quartas...) chances: Cisne Negro, A Origem, Toy Story 3 e Bravura Indômita. Mas ainda não são os melhores. Estes são, justamente, os mais "normais". O Discurso do Rei tem a força do trio de atores. Colin Firth, Geoffrey Rush e Helena Bonham-Carter hipnotizam o espectador e fazem valer o ingresso. Mas o melhor filme é A Rede Social. Pelo conjunto, pelo equilíbrio, pelo jogo de maniqueísmo, pelo contar da história.


Ator: deve ganhar o Colin Firth. Merece, mas eu daria o prêmio para o Jeff Bridges novamente.


Atriz: deve ganhar (e merece muito) a Natalie Portman.


Ator Coadjuvante: ninguém tira o prêmio do Christian Bale. Formidável.


Atriz Coadjuvante: deve ganhar a Melissa Leo, mas a melhor atriz coadjuvante nem foi indicada, Mila Kunis (Cisne Negro).


Diretor: deve ganhar o Tom Hooper, pela simpatia que O Discurso do Rei vem colhendo no mercado. Mas eu prefiro o trabalho do David Fincher.


Roteiro Original: deve ganhar A Origem, com muito mérito.


Roteiro Adaptado: deve ganhar A Rede Social. Os outros concorrentes também são muito bons, mas a adaptação de A Rede Social é melhor.


Animação: Toy Story 3 ganha fácil. Filmaço.


Filme Estrangeiro: deve ganhar Em Um Mundo Melhor (Dinamarca). Da lista, eu só vi Biutiful, que não é lá essas coisas.


Fotografia: deve ganhar A Origem, que tem a melhor fotografia não só desse ano, mas de muitos anos.


Edição: deve ganhar A Rede Social, mas a briga é boa. A edição que mais gostei foi de Incontrolável, que nem foi indicado.


Direção de Arte: deve ganhar A Origem, mas, também nessa categoria, a disputa será acirrada. Eu gostei mais da direção de arte do filme que causa menos impacto, O Discurso do Rei.


Figurino: deve ganhar Alice no País das Maravilhas. O filme é meia-boca e exagerado, mas o figurino é primorosamente equilibrado (dentro do que é possível num País das Maravilhas e num filme do Tim Burton).


Maquiagem: deve ganhar O Lobisomem, mas serve qualquer um.


Trilha Sonora Original: deve ganhar A Rede Social, que tem uma trilha ótima. Mas eu gostei mais da trilha de A Origem.


Canção Original: deve ganhar Coming Home, de Country Song. Todas as canções são bem mais ou menos, mas eu ficaria com We Belong Together, de Toy Story 3.


Mixagem de Som: deve ganhar A Origem.


Edição de Som: deve ganhar A Origem.


Efeitos Visuais: deve ganhar A Origem, pela fantástica sensação de sonho.


Documentário de Longa Metragem: deve ganhar Exit Through The Gift Shop, mas vou torcer muito por Lixo Extraordinário.


Documentário de Curta Metragem: deve ganhar Poster Girl, mas os 3 documentários mais badalados nos EUA não foram sequer indicados.


Curta: deve ganhar God of Love, mas aqui tudo é possível. É a categoria com menos diferença de votos entre os indicados.


Curta de Animação: deve ganhar Dia & Noite, que é fantástico. Mas essa também é uma categoria com pouca diferença de votos entre os indicados e tudo pode acontecer.


É isso, vamos ver quantos palpites eu vou acertar. Nos últimos anos, muitos favoritos perderam por mudança de opinião da Academia nas últimas semanas. Se lembram do favoritismo de Avatar? Perdeu. Brokeback Mountain? Perdeu, também. Parafraseando os jogadores de futebol, o Oscar virou uma caixinha de surpresas...