terça-feira, 29 de dezembro de 2009

Comentário Amigo - Duna, por Celso Ferreira


Perdi Meu Avatar Atrás Daquela Duna

A culpa é do Marcio Rolla!

Teria sido um simples filminho em DVD numa tarde sem nada para fazer, mas aí o meu amigo resolveu comparar Avatar com Blade Runner, Star Trek e 2001, concluindo acertadamente que todos eram melhores que o grande lançamento de 2009. Isso foi o suficiente para que eu, meio que de brincadeira, dissesse: “vou comparar Duna e Avatar”.

E não é que eles são realmente parecidos? Não acredita? Então vamos lá!

Baseado na obra de Frank Herbert, Duna foi filmado em 1984 e dirigido por David Lynch, aquele mesmo sujeito indicado ao Oscar de melhor diretor por O Homem-Elefante, Veludo Azul e Mulholland Drive. O filme retrata a porradaria entre os Fremen, liderados pelo “prometido” Paul Muad’dib, que antes atendia pelo pomposo nome de Duque Leto de Arrakis (duque de araque?), e os Harkonnens, parceirões do Império e que haviam enviado o tal Duque e sua família para o planeta Duna com a intenção simples e singela de ver o camarada morrer.

A essa altura você está se perguntando onde raios eu vi alguma semelhança entre os dois filmes, mas basta colocar de lado a trama principal (chamemos de ROTEIRO) para perceber que existe uma série de semelhanças entre Duna e Avatar. Para começar, ambas as histórias partem de um ponto comum: um elemento natural existente apenas em um determinado planeta torna-se de alguma forma essencial, a ponto de despertar a cobiça de outros povos. Em Avatar, esse elemento é um mineral, em Duna, a especiaria laranja.

Passando por questões ambientais (essencialidade da água em Duna, riqueza da flora e da fauna, em Avatar), os filmes vão seguindo sua trilha, que é, como eu disse, permeada de semelhanças: a presença de um ser estranho que acaba por se tornar um líder (Paul Muad’dib e Jake Sully), a integração entre homem e natureza como única saída para o sucesso da resistência, a necessidade de utilização de equipamentos especiais para sobreviver à atmosfera dos planetas “alienígenas” e por aí vai.

Posta de lado qualquer comparação injusta que se faça quanto à produção dos filmes (25 anos são muita coisa em termos de efeitos especiais), talvez a única diferença entre um e outro seja a forma como a questão ambiental é tratada. Enquanto em Avatar o que se busca é a preservação de Pandora, em Duna o objetivo é justamente o oposto: destruir a especiaria laranja para forçar o Império e os Harkonnens a sentarem para conversar (mas ainda assim a necessidade de integração homem/natureza permanece na figura dos vermes de Duna). É como se o Kwait resolvesse extinguir todas as suas reservas de petróleo para evitar que outro país o invadisse.

Ah não, me perdoem, existe outra diferença entre Duna e Avatar: é o tal do roteiro. Avatar, no final das contas, é uma bela justificativa para um desfile deslumbrante de efeitos visuais e só. A história, como o próprio Marcio Rolla observou, é infantil e mal desenvolvida pelo seu diretor/roteirista. Duna, ao contrário, tem uma estrutura muito mais complexa e foi muito mais bem explorada por David Lynch. Ambos partem da dualidade bem/mal, mas em Duna você não sabe ao certo quem é quem, embora seja levado claramente a torcer por um dos lados.

Qual dos dois é melhor? Bem, não sei se pretendo ver Duna novamente, mas sei que assistir a uma nova sessão de Avatar não está nos meus planos. Porque tanta festa em torno do filme de James Cameron então?

Talvez Frank Herbert estivesse certo quando observou, ainda no início de seu livro, que os homens precisavam treinar suas mentes...

Um comentário:

Vinícius Lemos disse...

Não, não acho 'Avatar' melhor que Disrito 9, por exemplo. Mas na boa? Então qualquer filme que fale de ecologia por meio da ficção científica irá parecer Duna... Os argumentos não convenceram, ainda maos se tratando de um filme tão esquizofrênico que, vamos ser sinceros, se perde pelo caminho...