quinta-feira, 4 de fevereiro de 2010

Daniel na cova das leoas


Nine

A pessoa que conheço que mais entende de musical é a minha mãe. E foi ela também que me apresentou ao cinema italiano. Eu deveria ter ido assistir Nine com ela. Você já vai entender o motivo. Você não gosta de musicais? Então nem leia o resto do texto. E nem veja o filme. Mas se você ama musicais...

Rob Marshall já havia nos presenteado com o ótimo Chicago. Depois disso, fez o bonito (mas arrastado) Memórias de uma Gueixa, mas volta ao gênero com Nine. E como o projeto é grandioso! E só lembrando: também é grandioso o seu próximo filme, pois ele estará na direção de Piratas do Caribe 4.

Assim como Chicago, Nine é baseado num musical de sucesso da Broadway (que é baseado numa peça de sucesso, mas sem músicas, italiana). A história é uma referência ao filme 8 e 1/2 de Fellini. O personagem principal é uma referência ao Fellini. E o que se vê na tela é uma mistura entre musical americano e cinema autoral italiano. Você acha que isso não vai funcionar? Acertou, não funciona. Mesmo assim, não é um filme ruim, mas você tem que gostar de musicais. Ou de cinema autoral italiano. No meu caso, deu para levar. E com algum prazer.

As músicas não são tão divertidas como as de Chicago, e isso é um grande problema. Quando é para divertir, o filme não diverte tanto. A melhor cena musical é com a inexpressiva Kate Hudson. As de Penélope Cruz e Marion Cotillard também são ótimas. Mas é só. Na hora de contar a história do cineasta com crise de idéia, o filme fica picado demais. Quando vai engrenar, rola uma musiquinha. E desse jeito, o filme não embala. Mas há o que se ver na tela...

Nine é um filme do elenco. É lógico que a direção de Marshall dá destaque aos atores, mas são eles que garantem o ingresso. Sophia Loren faz a mãe do personagem principal. E arrebenta. É a melhor representação da musa italiana. Quando ela entra em cena, todas as crises do diretor são claramente entendidas. Musa. Ícone. Diva.

E se a mãe não está verdadeiramente ao seu lado, eis que surge Judi Dench. Ela é a figurinista-amiga-confidente-conselheira-protetora. E antes de mais nada, é Judi Dench. Firme e forte. Sensível e permissiva. Musa. Dama. Diva.

E aí aparece Penélope Cruz. É a amante que todo italiano sempre sonhou. Exuberante e ingênua. Linda e frágil. Musa. Libido. Diva.

E não é que logo vem Nicole Kidman. Ela faz o papel da atriz-fetiche dos filmes do diretor. E aparece starlet total, uma celebridade em todos os detalhes. Linda em todos os movimentos. Musa. Mito. Diva.

E quando você acha que a crise do diretor não pode piorar, Marshall nos serve a esposa vivida sensacionalmente por Marion Cotillard. O ponto de referência, a serenidade, a mulher apaixonada insatisfeita. Linda e comum. Forte e frágil. Um conflito em cada olhar. Musa. Companheira. Diva.

Recheando esse universo italiano, mais um monte de mulheres lindas, incluindo uma exuberante Fergie (do Black Eyed Peas). Ah, e tem a bonitinha da Kate Hudson...

Marion Cotillard, Judi Dench e Penélope Cruz estão formidáveis e todo o resto do elenco está muito bem, mas o filme é sobre Guido Contini e ele é representado pelo espetacular Daniel Day-Lewis. Que ator! Num filme com mulheres tão exuberantes (tirando a bonitinha da Kate Hudson), você fica preso àquele homem que está em crise por causa delas. A tela parece pequena demais para o talento desse ator. Já havia sido assim em Sangue Negro. E é novamente assim em Nine. Nunca um inglês foi tão italiano. E vice-versa. Muso. Impressionante. Imprevisível. Insuperável. Divino.

E Nine é isso aí. Não empolga como musical. Não empolga como cinema autoral italiano. Mas tem Daniel Day-Lewis e suas mulheres maravilhosas. E nisso, esse Nine é 10.

2 comentários:

CelsoJnr disse...

Kate Hudson é de largar a família e fugir de casa.

Só queria deixar isso claro.

Grato.

Dani Rangel disse...

Gosto da Penélope Cruz, acho que ela é uma boa atriz e linda de morrer. Musa de verdade, como você diz. Mas não canta nada...
O melhor número é mesmo o da Kate Hudson, a música é a melhor. Achei o da Fergie legal também. E, pra mim, quem roubou a cena foi a Marion, que atriz maravilhosa! Mas, realmente, Nine é um musical fraco, fraco... Fiquei decepcionada!
Dani